E perguntaram a Jesus: “Quem é o meu próximo?“ E ele lhes contou a seguinte parábola:
Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: “Vá passando a carteira“. O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão.
Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: “Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você.“ Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: “Ego te absolvo...“ Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião.
Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho: “Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e seus problemas serão resolvidos!“ O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, “aleluia!“ e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma.
Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: “Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram. Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir.“ Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma.
O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido.
Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou: “Quem foi o próximo do homem ferido?“
(Correio Popular, 21 de julho de 2002)
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Após esta historinha eu penso:
A questão não é que estamos eximindo o ser humano do estado original de ser pecador. O samaritano não é salvo por ser samaritano, nem o travesti não é salvo por ser travesti. Muito pelo contrário, os samaritanos eram em geral idólatras, assim como o travesti usa de forma antinatural seu corpo para satisfazer apetites próprios. Cada um tem suas explicações para cada ato, o idólatra é por causa da cultura, o homossexual é por causa da história familiar. Mas independente de cultura e história de vida, todos são pecadores, são egoístas por natureza.
Porém, da mesma forma, longe estão os religiosos de serem salvos por praticarem seus atos aparentemente de justiça, mas que na verdade são tão maus quanto qualquer idólatra ou pervertido sexual. Somos todos iguais. Todos carentes da glória de Deus.
E a marca que nos livra desta escravidão do ego é só uma: A CRUZ DE CRISTO. Nela, fomos amados, perdoados, aceitos, lavados, purificados diante de Deus. Assim, somos amados e livres para amar.
E não importa quem aparentemente somos, mas que fomos perdoados por Deus. Quem é perdoado por Deus fica livre de si mesmo para amar as pessoas, seja samaritano, seja travesti, seja religioso, seja um extra-terrestre! O que vale é se amamos as pessoas como reflexo do amor de Deus por nós!


Gostei demais da parábola do Bom Travesti hehehe
ResponderExcluirSe a encarnação de Jesus fosse hoje acho que seríamos os fariseus, e saduceus, presos a nossa religiosidade!! Que Deus nos ajude a amar o nosso próximo
Um abração
Marcos Roque